Brevíssima história da indústria fonográfica cubana

Humara y Lastra, RCA Victor, Panart, Discuba e Egrem: gravadoras estrangeiras, selos independentes e a revolução.

Brevíssima história da indústria fonográfica cubana
Diego Gennaro/Unsplash

Muita gente me pergunta sobre o nome da newsletter - mentira, na verdade, nunca ninguém perguntou - por isso resolvi trazer, nesta décima publicação (na prática, já passamos de dez, mas estou contando apenas essas mais longas, então é a décima), uma brevíssima história para contar o que é DISCUBA.

Quando traduzido do espanhol para o português, o Google Tradutor apresenta a palavra DISCUBA como DISCUTIR. Não encontrei nenhuma aplicação dessa palavra em uma sentença no idioma espanhol, por isso duvido um pouco dessa tradução. No entanto, confesso que gosto desse “significado”, afinal, este espaço foi criado também com esse objetivo, a discussão.

Bem, na realidade, DISCUBA significa Discos Cubanos, um selo musical fundado em 1944 em Cuba.

Foram poucos os detalhes que consegui encontrar sobre o selo em si, por isso decidi traçar uma breve linha do tempo sobre a indústria fonográfica cubana, começando pelas primeiras gravadoras, pelo seu surgimento e de outros selos musicais e culminando no pós-revolução. Claro, que para ir fundo na análise e na história precisaria escrever muitíssimo mais do que já fiz, por isso, no final, recomendo algumas boas leituras que ajudarão você a se aprofundar no assunto, que é fascinante.


Os primeiros fonógrafos

Ainda que outras tecnologias de gravação e reprodução sonoras tenham sido inventadas antes, historicamente marca-se o ano de 1878 como sendo o de criação da fonografia, quando a patente do fonógrafo é dada a Thomas Alva Edison (GITELMAN, 1999; STERNE, 2003). Apesar de ser aclamado como uma tecnologia da informação e da comunicação revolucionária, o próprio Edison encontrou grandes dificuldades para estabelecer uma maneira lucrativa para sua invenção (CHANAN,1995; DOWD, 2002). De fato, seria apenas nos últimos anos da década de 1890 que a gravação de música se tornaria o principal conteúdo das gravações sonoras. No entanto, já a partir desse momento, a fonografia se configuraria como um negócio de alcance internacional. Ao se observarem as datas em que se dá o início da produção de fonogramas no Brasil, poder-se-ia notar que elas não são muito distintas das de outras regiões periféricas ao capitalismo industrial. Há registros do início desse negócio na Escandinávia (GRONOW, ENGLUND, 2007) e na própria América Latina (GONZÁLES e ROLLES, 2004) mais ou menos na mesma época, revelando que o desenvolvimento da indústria fonográfica em países não industrializados esteve diretamente relacionado à expansão do comércio internacional durante a chamada era dos impérios (HOBSBAWN, 1998) e a conseguinte estruturação das telecomunicações que conectavam países industrializados aos agroexportadores espalhados pelo globo.

Esses primeiros anos da fonografia foram marcados pelo uso estratégico de patentes. Através delas, regulava-se o acesso à tecnologia e se criavam monopólios de mercados ao redor do mundo. De um lado, nos países industrializados, havia empresas fonográficas que desenvolviam e controlavam a tecnologia de produção sonora através de patentes e que detinham plantas industriais para produção em larga escala de discos. De outro, estavam aventureiros que saíam pelas áreas coloniais em busca de localidades onde pudessem estabelecer gravadoras. Uma vez gravadas as matrizes, o material era enviado a fábricas nos países industrializados para a produção em larga escala, sendo comprado o produto manufaturado para revenda. (VICENTE, E.; DE MARCHI, L. Por uma história da indústria fonográfica no Brasil 1900-2010: uma contribuição desde a Comunicação Social. Música Popular em Revista, Campinas, ano 3, v. 1, p. 7-36, jul.-dez. 2014.)

A música, como principal conteúdo de gravações sonoras, foi o modo mais lucrativo de se vender fonógrafos e, consequentemente, os discos para se ouvir nesses aparelhos.

Extrato de jornal da época anunciando a lei que privilegia Thomas Edison para reproduzir o Fonógrafo no Brasil.
Anúncio de uma exposição de fonógrafos em 1879 no Rio de Janeiro.

O início do negócio fonográfico em Cuba ocorreu sob grande influência dos Estados Unidos, tanto pelo fornecimento de equipamentos quanto pela instalação de gravadoras e exportação da música cubana.

É importante recordar que, desde o início do século XX, os Estados Unidos frequentemente consideraram a compra de Cuba do Império Espanhol. À medida que a influência espanhola diminuía no Caribe, os Estados Unidos gradualmente passaram a dominar a economia e a política da ilha, controlando a maior parte dos investimentos estrangeiros e das trocas comerciais, além de exercer uma forte influência sobre os assuntos internos de Cuba. Além disso, os EUA ocuparam o país até 1902.

Cuba também se tornou um destino principal de férias e lazer para os estadunidenses, especialmente durante o período da Lei Seca nos EUA. Podemos dizer que Cuba foi transformada no quintal recreativo dos Estados Unidos.


Victor e as expedições musicais

O negócio fonográfico foi transnacional desde o início. As primeiras empresas, baseadas principalmente nos EUA e na Europa, reconheceram que pessoas em diferentes partes do mundo criavam e apreciavam diferentes formas de música e que consumidores em países estrangeiros - assim como imigrantes - provavelmente comprariam gravações desses sons familiares.

Para satisfazer essa demanda, as empresas gravavam músicos estrangeiros em turnê nos EUA ou na Europa, mas também enviavam técnicos de gravação ao exterior.

Entre 1903 e 1926, a Victor Talking Machine Company enviou seus "exploradores" em mais de 25 expedições de campo para a América Latina, onde gravaram quase 7.000 apresentações musicais, quase todas lançadas como discos comerciais. Embora a Victor não tenha sido a única empresa a gravar na América Latina – Edison, Odeon, Pathé e Columbia também o fizeram – a Victor foi a mais ativa na região durante esses anos.

O mapa abaixo, baseado na meticulosa pesquisa de Sergio Ospina Romero nos arquivos da SONY e em outros lugares, retrata essas expedições de gravação.

Conforme o mapa revela, apenas cerca de uma dúzia de homens serviram como exploradores de gravação para a Victor na América Latina. Todos haviam sido empregados como técnicos na sede da Victor em Camden, New Jersey, e foram selecionados para liderar expedições de gravação internacionais porque sabiam operar as máquinas, não porque tinham conhecimento sobre música ou sobre a América Latina.

Eram homens brancos de famílias da classe trabalhadora, principalmente da área de New Jersey. Curiosamente, pelo menos dois eram filhos de imigrantes: Henry Hagen, cujos pais eram alemães, e William Linderman, cuja mãe era irlandesa. Nesse sentido, eles tinham uma perspectiva transnacional.

No entanto, apenas alguns dos exploradores falavam espanhol ou português, e todos precisavam de ajuda para navegar pelos mundos musicais estrangeiros. A tecnologia de gravação que eles levavam era volumosa, então eram limitados a gravações em ambientes urbanos (e principalmente em cidades portuárias). Tipicamente, consultavam músicos locais, editores e donos de lojas de música para orientações sobre quais artistas e gêneros poderiam vender mais discos. Por exemplo, em sua visita a Bogotá em 1913, Frank Rambo e Charles Althouse confiaram em um dono de loja de música chamado Manuel Gaitán para recomendar performers.

Embora os americanos tenham guiado esse processo e se beneficiado economicamente dele, essas gravações não revelam uma estratégia deliberada para moldar o mercado internacional. Pelo contrário, os locais visitados e a música gravada refletiam os acasos das viagens internacionais, os caprichos dos intermediários locais que encontravam e seus próprios julgamentos mal informados. O capitalismo global era mais aleatório do que sistemático. […]

Fonte: Victor Recording Expeditions in Latin America. Hearing the Americas.

Em Cuba, a Victor realizou 1433 gravações entre 1902-1926. No Brasil foram 1095 no mesmo período. Recomendo consultar o mapa interativo neste link.


Humara y Lastra

Segundo o que pude apurar, Edison Records, Columbia e Victor Talking Machine Company foram provavelmente as primeiras gravadoras a se estabelecerem em Cuba.

Assim como no Brasil, onde a Odeon estabeleceu uma parceria comercial com uma empresa local, a Casa Edison, para a comercialização de gramofones e discos, em Cuba um modelo semelhante foi adotado.

O principal empresário nesse início da indústria fonográfica cubana foi o espanhol Don Remigio Humara, que em 1854 fundou a empresa de louças Humara y Lastra S. en C. em Havana.

Apenas em 1904, quatro décadas após sua fundação, o empreendimento alcançou uma sólida estabilidade e um poderoso status econômico no país. Don Remigio Humara, agora associado ao seu sobrinho Miguel Humara, despertou o interesse da então incipiente empresa fonográfica estadunidense Victor Talking Machine Company para que a Humara y Lastra S. en C. se estabelecesse como representante cubana para a distribuição de gramofones e discos Victor.

Foi somente a partir de 1910 que os Humara conseguiram aumentar o capital financeiro com as vendas dos novos itens, o que lhes abriu o caminho para se tornarem um grande império comercial na época. Eles não se dedicavam apenas à comercialização de gramofones, mas também entraram na fascinante aventura de buscar talento artístico em todo o país para gravações em Havana e nos Estados Unidos.

Ainda em 1910, Don Remigio Humara faleceu. Seu sobrinho então se casou com Francisca Maderne, que, ao ficar viúva em 1919, associou-se a seu sobrinho Julián Lastra, dando origem ao histórico complexo da música gravada "Viuda de Humara y Lastra S. en C.".

Anúncio da Viuda de Humara Y Lastra, S. en C.

É atribuído à Humara y Lastra as primeiras gravações fonográficas de grupos e figuras como Sindo Garay, Alberto Villalón, Manuel Corona, Eusebio Delfín, Sexteto Habanero, Sexteto Boloña, Rita Montaner, Bienvenido Julián Gutiérrez, Ernesto Lecuona, Antonio Machín, Trío Matamoros, René Cabell, María Ciérvide, Dámaso Pérez Prado, Miguelito Valdés, Benny Moré, Orquesta Aragón e Xiomara Alfaro, além de terem introduzido em Cuba tecnologia de ponta, destacando-se por anos na indústria fonográfica cubana.

Em 1926, o controle da Victor Talking Machine foi vendido para duas empresas do ramo bancário, que por sua vez a venderam para a Radio Corporation of America em 1929, onde ela tornou-se a RCA Victor e, em 1968, em RCA Records.

Principal loja RCA Victor em Havana. Provavelmente em 1959.
A mesma loja depois dos anos 2020.

Panart, hecho en Cuba

Até meados dos anos 40, a RCA Victor tinha como concorrente à altura, provavelmente, apenas a Columbia, mas ainda assim dominava o negócio fonográfico cubano. No entanto, em 1944, eles testemunharam o surgimento do primeiro selo independente de Cuba, a Panart.

O impacto cultural e comercial do selo criado pelo músico e engenheiro Ramón Sabat foi fundamental para o surgimento posterior de outros selos.

Sobre a Panart deixo abaixo alguns trechos do artigo “El mundo de Panart Records”, escrito pela jornalista e escritora indicada ao Grammy Judy Cantor-Navas:

A Panart foi a gravadora pioneira de Cuba. Na Panart, foi gravado o primeiro cha-cha-chá, "La Engañadora", de Enrique Jorrín, assim como o primeiro single de mambos de Dámaso Pérez Prado, que fracassou em Cuba antes de ele ir para o México e se tornar o rei do mambo mundial. A Panart organizou as primeiras gravações de música afro-cubana sagrada feitas em estúdio, onde se ouve Celia Cruz cantando em lucumí em faixas que parecem ser as primeiras gravações para um selo da futura rainha da salsa.

O catálogo da Panart inclui Joseíto Fernández cantando sua "Guajira Guantanamera" e as únicas gravações de Miguel Matamoros tocando "Lágrimas Negras" e "Son de la Loma" com o Quarteto Maisí, um grupo que incluía sua então esposa, Juana María Casas, La Mariposa. Há também gravações iniciais de Compay Segundo e Ibrahim Ferrer, e, em discos gravados por eles e outros artistas da época para a Panart, o repertório de canções que, quase meio século depois, foram recuperadas e reproduzidas pelo Buena Vista Social Club e suas sequências. Todos foram gravados, incidentalmente, na casa colonial em Havana que, de 1943 a 1961, foi conhecida como "a sede da Panart".

[…]

A importância histórica da Panart não reside apenas em seu catálogo: a Panart significou a criação de uma indústria musical doméstica em Cuba. Foi o primeiro estúdio de gravação comercial em Havana que não estava afiliado a uma emissora de rádio. Além disso, suas prensas constituíram a primeira fábrica de discos da ilha.

[…]

No auge de sua popularidade, do meio para o final dos anos 50, seu fundador, Ramón Sabat, era uma figura reconhecida na noite havaneira: um homem de tez pálida, bigode espesso, com óculos de aro grosso, fumando um H. Upmann. Ele estava sempre em busca de novos artistas para contratar nos clubes, desde o Tropicana, onde encontrou Los Chavales de España, até a academia de dança Marte y Belona, onde apreciava os concertos de La Sonora Matancera. Quando Sabat pendurava seu smoking em casa, passava horas ouvindo música clássica e tomando sua última Coca-Cola da noite, enquanto desenhava. Os inventos e designs que criou ao longo de sua vida incluíam um dispositivo sônico submarino usado pela marinha dos Estados Unidos e os primeiros toca-discos portáteis vendidos em Cuba. Os seis modelos produzidos pela Panart permitiram que muitos cubanos ouvissem discos em casa pela primeira vez.

[…]

Ramón Sabat alugou um prédio no número 410 da rua San Miguel, entre Campanario e Libertad, e começou a construir um estúdio. As prensas foram instaladas no pátio interno da casa. Em abril de 1943, ele fundou a Cuban Plastics and Record Corporation e sua subsidiária Pan American Art (Panart).

[…]

Relegada nas lojas de discos pelo monopólio americano, a Panart criou as primeiras seções de discos na loja de departamentos Sears e, posteriormente, em El Encanto. Os donos das lojas estavam relutantes, preocupados que a música distraísse os clientes durante as compras. Mas logo perceberam que o som dos últimos sucessos atraía um público jovem desejado.

A Panart era como Davi confrontando o Golias RCA Victor. No entanto, a gravadora independente tinha uma vantagem clara: discos feitos em Cuba.

Na mesma semana, o disco já estava nas ruas. "Os discos eram prensados ali mesmo em San Miguel," contou o pianista Roberto Álvarez do Conjunto Casino a Pérez-Urría. "Fazia-se uma pira, os caminhões vinham com uns quadros de plástico e com base de bronze fazia-se disco a disco, com etiqueta colada e tudo."

Espí e o grupo assinaram com a Panart em 1949 justamente porque a RCA Victor demorava um ano ou mais para lançar um disco em Cuba, quando o número gravado já não era de interesse.

Assim, a Panart consolidou seu lugar no mercado e abriu caminho para outras gravadoras cubanas, como Gema, Puchito e Kubaney, que surgiram em sucessão. A Panart acelerou sua produção, Sabat projetou um segundo espaço de gravação, elevando o teto para criar um estúdio mais amplo no andar de cima. Ele também renovou o primeiro andar, abaixando o nível do chão. E aconteceu que os três operários contratados para ajudar na construção buscavam uma oportunidade como grupo musical: o Trio La Rosa acabou tendo uma carreira de sucesso como artista da Panart.

[…]

Com a explosão do interesse por Cuba como destino turístico nos anos 50, graças aos cassinos e ao entretenimento noturno, a Panart expandiu seu plano de marketing, incluindo uma promoção com a companhia aérea Cubana de Aviación. Em 1956, a Cubana oferecia um disco gratuito a cada passageiro e vendia discos da Panart em suas agências de viagem. Alguns discos da Panart lançados nos Estados Unidos – havia apenas 30 em 1957 – traziam um selo da Comissão de Turismo que garantia a música autêntica de Cuba, como se ouve em toda a República de Cuba, por artistas e músicos cubanos.

[…]

Antes do final dos anos 40, a Panart começou a exportar seus discos e a fazer acordos de distribuição com companhias que incluíam Peerless e Musart no México, Discos Fuentes na Colômbia e Odeon no Chile. A Panart também tinha acordos com a Decca e a Capitol para lançar seus títulos em Cuba. O escritório da Panart em Nova York distribuía para outras cidades dos Estados Unidos e lançava versões dos álbuns mais populares com títulos e textos em inglês.

"De um modo geral, a Panart foi responsável pela ampla circulação da música cubana ao redor do mundo", disse Sabat a um jornalista em 1957. "Se a Panart não tivesse existido, o impacto internacional da música cubana teria sido consideravelmente menor."

[…]

En 1959, quando as mudanças políticas e sociais chegaram rapidamente a Cuba com a vitória de Fidel Castro, a Panart estava no auge de seu sucesso. Mas diante da incerteza sobre seu futuro, Julia e Gala Sabat, o irmão de Ramón, começaram a levar cópias das masters das gravações do selo em suas viagens a Nova York. Luis Díaz Sola, responsável pela produção das capas dos discos, levava os negativos para Miami.

No início de 1961, quando os Estados Unidos romperam suas relações diplomáticas com Cuba, Julia Sabat estava em Nova York. Ramón Sabat se recusava a deixar Cuba e permaneceu em Havana para manter o negócio com Galo, que escreveu em uma carta a Julia: "continuamos lutando em meio a um mar de obstáculos".

Na noite de 30 de maio, Ramón Sabat chegou a Nova York após uma viagem de visitas às empresas associadas à Panart na América Latina. Na mesma manhã, o estúdio e a fábrica haviam sido confiscados pelo governo cubano. A Panart seria dirigida pela nova Imprenta Nacional de Cuba e, em 1964, as gravações passaram a fazer parte do selo nacional Egrem.

Depois de deixar Cuba, a família Sabat mudou-se para Miami e montou uma pequena fábrica de discos, onde produziam uma série de compilações destinadas à comunidade cubana no exílio. Pouco antes da morte de Ramón Sabat em 1986, os mestres que foram trazidos de Cuba e os direitos do catálogo foram vendidos a um empresário venezuelano; posteriormente, as gravações da Panart foram para o selo mexicano Musart e, em 2016, para a Concord Records de Los Angeles, onde agora fazem parte do selo Craft Recordings.

Discos Cubanos

Para competir diretamente com a Panart, a RCA Victor criou em 1959 a Discos Cubanos S.A., conhecida como Discuba.

Na década de 1930, parte dos antigos equipamentos de gravação da RCA Victor foi adquirida pela CMQ Radio, sendo posteriormente transferida para a nova Radio Cadena Suaritos em 1937, durante uma mudança de localização da CMQ. Esse evento marcou o início da gravação independente em Cuba, embora o material produzido nessas rádios raramente chegasse ao público.

Com o surgimento da Panart na década de 1940, a indústria fonográfica cubana passou por uma transformação significativa, culminando no surgimento de várias gravadoras independentes, conforme mencionado anteriormente. Por outro lado, como parte de uma estratégia para fortalecer a presença da RCA Victor no mercado latino-americano, a Discuba foi criada e estabelecida sob a direção de Jesús Humara, com Eliseo Valdés atuando como gerente de A&R, ambos com experiência anterior na Victor.

O selo foi responsável pelo lançamento de nomes como Beny Moré, Orquesta Aragón, Pacho Alonso e La Lupe.

Embora eu não tenha encontrado nenhuma conexão direta entre Jesús Humara e a família Humara y Lastra, os primeiros parceiros da RCA Victor em Cuba, é razoável supor que, pelo sobrenome, possa haver alguma ligação.

A nacionalização da indústria fonográfica cubana pelo governo de Fidel Castro em 1961 também levou a Discuba a se mudar para os Estados Unidos, enquanto seus ativos foram transferidos para a Imprenta Nacional de Cuba (INC). Entre 1961 e 1964, a INC ficou responsável pela produção e distribuição dos álbuns previamente gravados pela Discuba, Puchito, Panart e Gema. Apesar disso, a Discuba manteve suas operações nos Estados Unidos, embora o número de lançamentos anuais tenha diminuído. Em 1963, o selo recém-criado Real começou a lançar LPs da Discuba na Colômbia.


Revolução e a Egrem

A Imprenta Nacional de Cuba foi responsável pela música cubana até 1964, quando a Egrem (Empresa de Grabaciones y Ediciones Musicales) foi criada.

Não é possível - e nem é o objetivo aqui - aprofundar nas políticas e impactos pós-revolução na indústria fonográfica cubana, pois esse assunto requer uma análise mais detalhada. No entanto, não descartarei esse tema e fornecerei ao final algumas referências para quem desejar explorá-lo mais a fundo.

O que é essencial compreender é que as gravadoras cubanas foram nacionalizadas como parte de um processo revolucionário, incluindo a Panart, enquanto as estrangeiras que possuíam filiais ou subsidiárias em Cuba, como a RCA Victor, Columbia e Edison, tiveram suas estruturas e catálogos incorporados à INC e, posteriormente, à Egrem.

A Egrem é encarregada de produzir, distribuir e, principalmente, preservar a música cubana. Ela está envolvida nessas atividades há sessenta anos. “Pode-se dizer que teve a sorte de herdar valiosos arquivos, concentrando os registros da lendária empresa Panart, fundada em 1944 pelo engenheiro Ramón Sabat, bem como de outros selos habaneros como Kubaney, Gema, Discuba, Seeco, Velvet e Puchito. Após o processo de nacionalização e o mandato transitório da Imprenta Nacional de Cuba, o Estado revolucionário decidiu confiar a uma nova entidade, fundada em 31 de março de 1964, a gestão da indústria fonográfica”.


Para ir mais fundo (fontes e referências):

Textos do Granma, um Órgão Oficial do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba:


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