Que Rock in Rio foi esse?

Que Rock in Rio foi esse?

Olá, olá! Que semana, minha gente!

O "mundinho indústria musical" está em colapso, e o Brasil segue pegando fogo, literalmente. Destaco nessa edição alguns tópicos sobre o Rock in Rio (apenas alguns, prometo, hehe), Gusttavo Lima & Você e mais.

Bora?


Pisa Nova ou Pisa Fofo?

O pesquisador GG Albuquerque publicou ontem, em seu perfil O Volume Morto, um vídeo criticando a interpretação de Mãeana ao cantar João Gomes + João Gilberto, algo que ela tem chamado de Pisa Nova. Muitas pessoas concordaram com as opiniões dele, mas uma proporção semelhante não ficou nada feliz com a abordagem de GG (é!). A partir do disco Mãeana Canta JG, ele propõe um debate sobre o embranquecimento da música, higienização e apropriação.

Antes de GG, o também pesquisador Acauam Oliveira já havia escrito um texto em seu perfil no Instagram, trazendo o álbum de Mãeana como ponto de partida para discutir a domesticação da música preta e periférica, transformando-a em algo palatável aos ouvidos sudestinos.

Eu ainda não ouvi Mãeana Canta JG, mas nas minhas pesquisas recentes sobre os festivais, tenho notado o nome dela e desse projeto em vários cartazes. Se posso acrescentar algo a esse debate, é pelo ponto de vista do mercado. Tenho observado que projetos similares ao Mãeana Canta JG estão surgindo na esteira dos festivais que difundem exaustivamente os famosos shows "fulane canta sicrane", ou "sicrane convida beltrane", principalmente no pós pandemia. A intençao parece ser muito mais criar a ideia de um "show único que você verá apenas aqui" do que atender um desejo do público ou realizar a missão artística do artista. Esse formato, sem dúvida, facilita a venda para festivais, já que eles estão claramente interessados nesse tipo de proposta. Um exemplo evidente é o Doce Maravilha, com curadoria de Nelson Motta, que promove como inovadores esses "encontros da música". No entanto, a realidade é que muitos artistas sobem ao palco com pouco ou nenhum ensaio, entregando um show que acaba não sendo nem do artista A, nem do artista B. O Palco Sunset do Rock in Rio segue essa lógica há anos, e outros festivais de todos os portes também estão adotando essa prática, que parece mais uma contratação casada do que uma verdadeira inovação.

O debate é longo e cheio de camadas. E você, já ouviu um Pisa Nova?


Tchê Tcherere Tchê Tchê

Vocês devem ter acompanhado a "quase" prisão de Gusttavo Lima no início da semana, né? Ele escapou, mas segue na mira da Operação Integration, a mesma que levou Deolane à prisão por 20 dias e solta na terça-feira (24). Trouxe mais algumas matérias sobre "o curioso caso do cantor sócio da Vai de Bet".

Voo à Grécia e fortuna em cofre: a ação contra Gusttavo Lima em 5 pontos
O Tribunal de Justiça de Pernambuco decretou na segunda-feira (23) a prisão do cantor Gusttavo Lima, 35, alvo da mesma operação que prendeu Deolane Bezerra. Entenda a investigação contra o artista em cinco pontos.1. Nome do cantor surgiu pela 1ª vez co
Gusttavo Lima teve show de R$ 1,1 milhão contratado em dia do decreto de prisão
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Que Rock in Rio foi esse?

Mais um Rock in Rio aconteceu ao longo das duas últimas semanas na Cidade do Rock, e essa edição nos trouxe (poucos) shows marcantes, gafes nos palcos, dias temáticos questionáveis e muitas críticas.

Uma das que mais repercutiram foi a de André Barcinski, que publicou um texto destacando como o Rock in Rio se transformou em um evento onde a música ficou em segundo plano para o público.

Muita gente torceu o nariz para o Barcinski, mas ele se valeu de uma declaração do próprio Roberto Medida, criador do evento. "Nas pesquisas, 50% das pessoas dizem que vão pela banda e 50% pelo evento. Não é verdade. Elas vão 100% pelo evento. O Rock in Rio no Brasil está consolidado, ele esgota de qualquer jeito antes de abril. Quatrocentas mil pessoas vão comprar bilhetes sem saber nada sobre o que vai tocar lá", disse Medina à Rádio Renascença, de Portugal.

Opinião - André Barcinski: Rock in Rio é festival para público que não se importa com música
É difícil imaginar que artistas se sintam muito realizados ao tocar naquele parque de diversões, mesmo com bom line-up

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Medina e Barcinski estão certos. Não é à toa que o festival atraiu 730 mil pessoas ao longo das duas semanas.

520 mil litros de chope, meio milhão de latas de energético, 8 mil descidas na Tirolesa: os números do Rock in Rio
Nos 7 dias, 730 mil pessoas passaram pela Cidade do Rock, 46% de fora do RJ.

Não nos iludamos: festivais, nos moldes do Rock in Rio, tornaram-se lugares onde as pessoas conhecem muito mais marcas do que novos artistas ou músicas.

Pra sempre?

Um dos pontos que mais me chamou atenção foi o tal Dia Brasil. Primeiro, acho uma loucura um festival que nasceu no Brasil e acontece no Brasil precisar ter um dia dedicado ao próprio país. Perceba!

O "catadão" de artistas, como disse Barcinski, foi dividido em diferentes atos musicais, cada um dedicado a um gênero, em shows coletivos. No fim das contas, o público teve mais a sensação de estar assistindo a um Criança Esperança do que a um show do seu artista brasileiro favorito.

Problemas técnicos e atrasos comprometeram a maior parte desses shows, resultando no cancelamento da apresentação de Luan Santana na atração "Pra Sempre Sertanejo", e vaias durante o "Pra Sempre Trap". Além disso, o esvaziamento do público nesse dia, comparado aos outros, também chamou atenção.

A forma como Roberto Medina e seu festival tratam os artistas brasileiros é uma questão discutida há muitos anos. Rita Lee já falou sobre isso publicamente em 1991, e basta analisar a programação do Palco Mundo para entender o lugar que os artistas locais ocupam no Rock in Rio.

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Depois de show de Ludmilla no palco Sunset, artista foi para o Twitter dizer que evento não privilegia brasileiros
Rock in Rio erra nome do Ratos de Porão no camarim; João Gordo mostra correção e ironiza: ‘Roquem Rio’
Placa do camarim dizia que o nome da banda era ‘Ratos do Porão’. João Gordo postou desenho com correção e ironizou festival.

Tirando o Dia Brasil, quando 25 artistas se apresentaram em 4 shows diferentes na mesma noite no Palco Mundo — considerado o principal do evento —, nos outros dias do festival, das 24 atrações no mesmo palco, apenas 8 eram brasileiras, com Ludmilla sendo a única artista preta, entre todas, a ter um show solo.

É claro que não vão repetir o Dia Brasil porque ele sequer estava nos planos originais do Rock in Rio 2024 Foi a falta de headliner internacional que obrigou o festival a atrasar a venda geral em mais de um mês e criar o Dia Brasil como solução

Festivalando (@festivalando.com.br) 2024-09-23T13:54:49.247Z

Para surpresa de ninguém, a família Medina já deixou claro que a "logística desafiadora" não será repetida em uma próxima edição.

Amazônia: um bom negócio

Durante o evento, foram anunciadas as datas do próximo The Town, programado para 2025 em São Paulo, e um novo festival chamado Amazônia Para Sempre, a cidade-sede escolhida para o novo empreendimento da Rock World é Belém.

A ideia é dialogar com a COP 30 e colocar no centro do debate as pautas ambientais, especialmente a preservação da Amazônia. Além disso, a produtora abrirá um edital no valor de R$ 2 milhões para que iniciativas locais participem do evento.

Os patrocinadores do festival? VALE e Gerdau (sim, empresas com dezenas de crimes ambientais gravíssimos em seu histórico). Não vou me alongar muito sobre isso, mas é importante ressaltar que tem se tornado cada vez mais difícil e custoso escapar das contradições sociais e morais impostas pelo capitalismo, especialmente na indústria cultural. Quando faço essas críticas sobre a escolha de patrocinadores em festivais como Lollapalooza, Rock in Rio e The Town, é com a consciência de que a Rock World pode optar por outras alternativas, o que é bem diferente da realidade de festivais de médio e pequeno porte, que estão sendo sufocados neste mercado. No entanto, não podemos perder o senso crítico, deixar de cobrar e questionar e, acima de tudo, devemos reconhecer a cretinice que é tudo isso.

Amazônia para Sempre: Rock in Rio e The Town anunciam festival para ampliar o debate sobre as pautas da Amazônia e da COP 30 - Mercadizar
Em 2025, um espetáculo inédito vai colocar a Amazônia no centro da mídia nacional e internacional, celebrando a icônica floresta e chamando a atenção do mundo para a 30ª Conferência das Partes para o Clima (COP 30), promovida pela Organização das Nações Unidas – que será realizada em Belém do Pará, em novembro de 2025. […]

Chegou na sua bolha?

  • Muita gente não sabia, mas o TikTok — ou melhor, a ByteDance — tinha um app de música chamado TikTok Music. Esta semana, a empresa anunciou que ele será descontinuado globalmente em novembro.
  • Kesha lançou seu próprio selo musical. Depois de tantas batalhas jurídicas e tudo que ela passou, é muito bom vê-la tomando as rédeas de sua própria criação e carreira.
  • O assunto é sério, mas o "jeitinho brasileiro" de lidar com o caos é criar memes, e há alguns ótimos do Gusttavo Lima.
  • As receitas dos shows ao vivo cresceram acima da inflação, mas passarão por desaceleração.
  • O The Offspring também entrou na onda do Brazil Bait e lançou uma música chamada Come To Brazil, como forma de homenagear os fãs brasileiros. O arranjo remete a show em estádio, com refrão grudento e tudo mais. O Mimidias analisou o lançamento e falou sobre como muitos artistas gringos acabam se aproveitando do engajamento brasileiro para se promover. Vide Katy Perry, que até tomou café com o Louro José para vender seu novo disco. Será que somos tão fáceis assim?

Ufa! É isso!

Abraço!