Rock World está abrindo as portas dos mega festivais para as bets?
Na última terça-feira, o Lollapalooza Brasil divulgou seu tão aguardado line-up. Programado para acontecer nos dias 28, 29 e 30 de março de 2025, em São Paulo, a programação, como sempre, dividiu opiniões. Entre todas as atrações, o que também chama a atenção é o rodapé de patrocinadores e marcas apoiadoras.
A Rock World, mesma produtora do Rock in Rio e do The Town, que pela segunda vez assina a produção do Lolla (anteriormente sob responsabilidade da T4F), conta mais uma vez com uma casa de apostas como marca apoiadora, desta vez a BetNacional.
Bets em mega festivais
Na edição de 2024, a SuperBet tornou-se a primeira casa de apostas a fazer parte como marca apoiadora do Lollapalooza, o que se repetirá no Rock in Rio, previsto para começar no próximo dia 13 de setembro. Patrícia Prates, diretora de marketing da empresa, explicou que a decisão de apoiar o Lollapalooza visava "posicionar a marca em um território além do esporte, seu principal campo de atuação". No evento, a SuperBet montou um estande de 100 metros quadrados, onde os visitantes puderam participar de jogos relacionados à música e ganhar brindes. "Já temos experiências no futebol e agora estamos expandindo essa mentalidade para o segmento musical, que compartilha valores semelhantes aos do esporte em geral", comentou Prates. Para o Rock in Rio, a SuperBet planeja criar um espaço promocional similar ao do Lollapalooza Brasil.
É um sinal de alerta?
A migração das empresas de apostas para o universo do entretenimento, especialmente para os festivais, não é algo novo. Temos um longo texto listando alguns dos principais eventos em que marcas como BetNacional e Betano, por exemplo, já patrocinam ou realizam as chamadas ativações. No entanto, hoje, nenhum festival no Brasil possui o tamanho, estrutura, logística e exposição do Rock in Rio e do Lollapalooza.
Às vésperas de uma regulamentação mais rígida no que diz respeito à publicidade e operação no país, as apostas têm se tornado um assunto cada vez mais preocupante, principalmente na esfera da saúde pública e jurídica. Por isso, é um sinal de alerta quando empresas desse ramo adentram no universo dos festivais, especialmente após o esporte brasileiro ter sido praticamente inundado por publicidade e patrocínios de casas de apostas.
O Itaú estima que, entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros movimentaram R$ 68 bilhões em jogos virtuais, incluindo apostas esportivas e jogos de azar. Já o Instituto Locomotiva relata que 52 milhões de brasileiros já participaram dessas atividades ao menos uma vez. Há seis meses, esse número era de 38 milhões.
O estudo da PwC projeta que as despesas dos brasileiros com apostas esportivas, em todas as classes sociais, totalizaram entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões em 2023. Esse valor é mais de 40 vezes o gasto com ingressos de futebol e 12 vezes o consumo no cinema.
Outras indústrias
No Brasil, a indústria do tabaco é proibida de patrocinar eventos culturais ou esportivos. No entanto, como já relatado, nem sempre os festivais respeitam essa lei. E agora, o novo desafio da Anvisa são os vapes.
Já o álcool, atualmente, possui restrições rígidas quanto à veiculação de propagandas no rádio, na televisão e nas redes sociais, além de ser proibido o patrocínio a times de futebol. Em eventos culturais, existem brechas para que uma infinidade de eventos seja patrocinada por marcas de bebidas alcoólicas, que, ainda assim, precisam seguir uma série de regras dentro dos espaços dos eventos.
No caso do futebol, em São Paulo, por exemplo, desde 1996, a venda de bebidas alcoólicas está proibida por uma lei aprovada após a comoção causada pela batalha entre as torcidas do São Paulo e do Palmeiras em um jogo da Supercopa de Futebol Júnior, no Pacaembu, em que um garoto de 16 anos foi morto dentro do estádio. Durante a realização da Copa do Mundo de 2014, graças a uma legislação específica e sob pressão da Fifa, foram vendidas cervejas nos estádios, inclusive naqueles de estados onde há proibição local.
Já no Rio de Janeiro, desde 2011, é proibido o patrocínio de marcas de bebidas alcoólicas em festas estudantis.
Público-alvo qualificado
No caso dos mega festivais de música, como Rock in Rio, Lollapalooza e agora The Town, a maioria das parcerias entre empresas de bebidas e produtoras acontece com a inserção das marcas nos materiais publicitários, em itens como copos, à exclusividade de comercialização de seus produtos e, em alguns casos, com a criação de espaços exclusivos.
Ainda nos mesmos festivais, as empresas de apostas, que surgem como marcas apoiadoras, criam estandes que simulam jogos, entregam brindes e expõem seus principais produtos para uma grande fatia de um público cada vez mais jovem – uma parte significativa do público-alvo das apostas.
Quando falamos do mercado de apostas, as restrições no que diz respeito à publicidade no ambiente esportivo, mídia, redes sociais e eventos culturais ainda permanecem em uma enorme área cinzenta. Ou seja, a brecha perfeita para que, em um futuro muito próximo, o público veja cada vez mais as apostas em seus festivais favoritos. Principalmente quando produtoras como a Rock World dão os primeiros passos largos nessa prática.