Time For Money: como a T4F ganha dinheiro?

A tirolesa e a roda gigante não são inocentes

Time For Money: como a T4F ganha dinheiro?
Festival Turá, nova marca da T4F (Foto: Flashbang)

O nome em inglês engana, mas a Time For Fun é brasileira, e sua origem e expansão contam parte da história do mercado de entretenimento brasileiro. Única do segmento com capital aberto no Brasil, seu modelo de negócio consiste em atuar em diferentes frentes do mercado, e verticalizar cada vez mais os ganhos em todas as linhas de negócios envolvidas na execução de um evento.

Com um fundador e ex-CEO vislumbrando um futuro com reconhecimento facial na entrada de seus eventos e cachês artísticos calculados através de análise de dados, o que temos, na verdade, é um presente repleto de processos junto ao Procon, investigação em andamento no Ministério Público e muitas, mas muitas, reclamações do público.


O empreendimento embrionário da T4F foi a "casa de espetáculos Palace, aberta em 1983, em Moema, bairro de classe alta na zona sul paulistana. Com investimento inicial de R$ 500 milhões, o espaço passaria por transformações nos anos seguintes, agregando novos negócios até se tornar a T4F”.

Criada pelos empresários Fernando Alterio, atual presidente do conselho de administração da empresa, Sérgio Assumpção e Arthur Prioli (sócio do Canecão, no Rio de Janeiro), o Palace foi um dos precursores no país a utilizar o sistema de naming rights como forma de rentabilizar espaços. Quando o Palace passou a ser Citibank Hall e em 1998 os mesmos empresários inauguraram o Credicard Hall, o grande portal dos naming rights foi escancarado. Para se ter dimensão, apenas em São Paulo temos: estações de metrô Pernambucanas-Paulista e Mackenzie-Higienópolis, cinema Petra Belas Artes, Teatro Renault, Espaço Unimed, Tokio Marine Hall, estádios de futebol Neo Química Arena e Allianz Parque, e muitos outros espaços que já fecharam suas portas ou não me recordo agora.

Fernando Alterio abriu mão do cargo de CEO em maio de 2023, e quem assumiu foi Serafim Abreu. Além da eleição do novo CEO, a companhia elegeu Francesca Alterio (filha de Fernando) como diretora de Estratégia e Inovação.

Alterio se formou em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FVG), começou sua carreira no mercado financeiro. A primeira instituição na qual atuou foi o banco de investimentos Interatlântico, na ocasião, uma parceria entre o grupo português Espírito Santo e J.P. Morgan. Logo depois, chegou a adquirir uma distribuidora de títulos e valores mobiliários e uma corretora de investimentos, mas acabou desistindo do setor financeiro. “No início, minha vida eram os bancos de investimentos e o mercado financeiro. Mas cansei dos altos e baixos desse mundo, e decidi fazer o que realmente gostava, que era trabalhar com música”, afirmou. Aos 30 anos decidiu entrar no mercado de entretenimento, abrindo o Palace.

No final dos anos 90, veio um aporte de capital da mexicana Corporación Interamericana de Entretenimento (CIE).

Agora operando como CIE Brasil, o aporte possibilitou produções ainda maiores, como os musicais da Broadway, Cirque Du Soleil e shows em estádios.

A T4F, de fato, surgiu em 2007. Após anos de crescimento, "Alterio recomprou a parte que tinha vendido para o CIE. Dois meses depois, o empresário adquiriu as operações que o grupo tinha na Argentina e no Chile, das quais ainda não era sócio, o que permitiu à T4F levar os mesmos shows do Brasil para esses países”.

“Na Argentina, temos um teatro na avenida Corrientes que também recebe musicais da Broadway. Além disso, temos a maior empresa de tickets do país, que também opera no Chile. Ou seja, nós tentamos fazer o booking dos shows para toda a região”, explica.

Em 2011, a T4F abriu capital.


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O modelo de negócio da T4F é diversificado e verticalizado. O que isso significa?

Diversificado, porque eles atuam em diferentes frentes do mercado: festivais, headliner tours, musicais e experiências de imersão. E verticalizado, porque eles monetizam todas as linhas de negócios envolvidas em um evento. Por exemplo, "em um musical, vendemos o naming right, os patrocínios, os ingressos pela nossa empresa de tickets, alimentos e bebidas, ou seja, captamos valor em toda a cadeia do entretenimento. Com isso, capturamos muitas sinergias e reduzimos a estrutura de custo fixo”, explica Alterio em entrevista concedida ao economista Pablo Spyer no programa De frente com o touro, em 2022.

A diversificação ficou ainda maior em 2020, com a aquisição da startup INTI, uma ticketeria white label, que permite a venda de ingressos de um espaço ou evento através de uma página inteiramente personalizada, gerando no cliente a percepção que o ingresso é vendido pelo próprio evento, e não por uma plataforma terceira. Quem utiliza o serviço, por exemplo, é o Museu da Imagem e Som, o Cine Joia, a Bienal Internacional do Livro Rio, entre outros.

Receitas recorrentes

A T4F ampliou a sua arrecadação recorrente quando adquiriu a INTI, que comercializa ingressos para atrações que acontecem em temporadas ou de forma permanente, no caso de museus.

Outras receitas recorrentes são as experiências imersivas, aquelas instalações temporárias em shoppings, e os musicais da Broadway, que ficam em cartaz longos períodos.

O Teatro Renault, gerido pela T4F, é o palco dos musicais em São Paulo. Essas produções acontecem via Lei Rouanet. Ou seja, a T4F homologa o projeto junto ao Minc e realiza a captação dos recursos para que ele seja realizado.

Sobre o uso da lei, Diego Parente, gerente de RI da T4F, explica:

Por que festival é um bom negócio?

Ouça a explicação de Alterio:

Para Alterio, um dos pilares mais importantes da indústria do entretenimento são os festivais. Pois, o potencial de venda das cotas de patrocínio é muito superior se comparmos com uma headliner tour ou uma casa de espetáculos.

Não à toa, desde 2019, a estratégia da T4F é a expansão de seus festivais para outras praças. Além da aquisição e criação de novas marcas.

O Lollapalooza foi o principal festival da empresa durante dez anos, mas, a partir de 2024, a Live Nation passa a realizar o evento no Brasil. Por outro lado, a T4F assumiu o Primavera Sound 2023 e as próximas dez edições, que estreou em São Paulo em 2022 com produção da Live Nation.

Com o Primavera a fórmula se repetiu. Levaram a edição 2023 para Interlagos e saíram vendendo cotas de patrocínio sem constrangimento.

Antes de perderem o Lollapalooza, a T4F já havia adquirido o festival Popload, e lançado o GRLS!.

A última aposta da T4F foi o Turá, em São Paulo. O festival foi o primeiro a acontecer no Parque Ibirapuera cobrando ingresso. Prática que agora é autorizada, graças à privatização do parque. Em novembro o festival aconteceu também em Porto Alegre.

De acordo com Parente, o cachê artístico e o custo para colocar um show ou festival ‘de pé’ é pago pela venda de ingressos. Depois disso, a T4F ganha na taxa de conveniência dos ingressos, na venda de cota de patrocínio, e de alimentos, bebidas e merch.

Outro ponto que Parente ainda explica é sobre o modelo do caixa da T4F. Que funciona atrelado ao que ele chama de “adiantamento do cliente”. Que é a receita oriunda da venda antecipada dos ingressos.

Ou seja, vocês percebem a loucura?

Quem paga cachê artístico e os principais custos estruturais de um festival é quem compra ingresso. Patrocínio é lucro!

Apenas em 2019, a T4F vendeu R$4 milhões em ingressos. E quando falamos de patrocínio o valor sobe para R$464 milhões (de 2016 a 2019).

A conta dos ingressos cada vez mais caros está apenas na meia-entrada, no preço do dólar, nos cachês altos, na inflação, na gasolina cara, e etc?

Nessa retomada dos eventos, o que vejo é o “modelo T4F” repetido à exaustão. Os festivais são cada vez menos um lugar para descobrir novos artistas, e cada vez mais um local para “conhecer” marcas. Nós compramos ingressos, pagamos os artistas, e temos nosso tempo e atenção vendidas para os patrocinadores.

A tirolesa e a roda gigante não são inocentes.


Durante o período da pandemia, a T4F realizou mudanças estratégicas e estruturais em suas operações.

Alterio descreve como a empresa passou pela pandemia que congelou o setor do entretenimento.

As principais medidas foram:

  1. Redução de 65% do quadro de funcionários no Brasil, iniciado menos de uma semana depois das restrições, com 47%;
  2. Suspensão, cancelamento ou redução de todos os contratos com fornecedores;
  3. Re-planejamento das debêntures (empréstimos);
  4. Encerramento das operações das casas de espetáculos em BH, SP e RJ. Aquisição da INTI e expansão da plataforma de festivais;
  5. Além disso, foram beneficiados pela Lei 14.046, que garantiu que os tickets de eventos remarcados ou cancelados fossem convertidos em créditos no lugar da devolução.

Ele explica como foi bom diminuir os “gastos com pessoal” em 48%, apenas uma semana depois do início da pandemia.

Todo o “esforço” deu certo. Mesmo sem receita, a empresa aumentou o caixa.

Vale mencionar também, que a T4F foi beneficiada pelo Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), que isentou durante cinco anos as empresas do setor de tributos federais.


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Para ir mais fundo: